Podia começar a dissertar aqui se acho ou não que Maradona é um dos três melhores de sempre ou não, mas isso faz muito pouco sentido neste momento. Maradona partiu hoje, e foi sem dúvida um dos maiores de sempre, e terá sempre o seu nome gravado a letras douradas na história do futebol.
Mas mais que isso, está gravado no coração de quem o viu jogar, falar e provocar como ninguém. E aposto que é assim que ele quer ser lembrado.
A minha memória mais viva de Maradona é no mundial de 94. É o primeiro mundial que me lembro com toda a clareza, e que acompanhei sofregamente. Aquele tipo já entradote, cheinho, e que se movia devagar entre os seus adversários era especial. A bola tinha um íman com a sua chuteira, e ao contrário dos outros nunca olhava para ela, sempre com a cabeça estranhamente bem levantada. E de repente la saia mais uma finta que parecia lenta mas fazia cair quem ia a sua volta.
Lembro-me como hoje daquele que viria a ser o seu último golo pela Selecção Argentina, frente à Grécia que vi em directo. Uma quantidade de passes à entrada da área incrível, algo que viria a ser refeito nos melhores momentos do Tiki Taka quase vinte anos depois, e de repente um Maradona com uma nesta de espaço no inicio da grande área, e um remate forte e colocado perfeitamente no angulo da baliza grega. E tudo isto sem parecer que estava a fazer grande esforço.
Mas o que fez sem esforço de repente se solta num grito de raiva e uma corrida para as cameras no festejo. Foi talvez naquele momento que percebi que Maradona era especial. Mais do que o grande jogador que conhecia, e que regressava aí às grandes provas, aquele carisma que transbordava era ali visível.
Infelizmente a sua participação terminaria ai, com um caso de doping ainda hoje mal contado, e a Argentina até aí cem por cento vitoriosa cairia por terra de seguida, já sem o seu capitão.
Lembro-me do jogador, mas lembro-me mais do homem. Sempre provocador, mas no sentido de que gosto de ver, a defender os seus e as suas causas. Um homem intenso, de paixões fortes, e um dos seres que melhor compreendeu o que era o futebol.
Uma lenda dentro e fora de campo, que se atreveu a viver como queria, pouco se ralando com o que os outros pensavam ou queriam. Um homem nesse sentido realmente livre, e dentro de campo um jogador quase perfeito. Tecnicamente perfeito, com um entendimento do jogo tal que se adivinhava o que iria suceder antes de acontecer, e com uma capacidade para levar qualquer equipa às suas costas, e esse sim é o talento mais raro.
Descansa em Paz Diego Armando Maradona. Nunca serás esquecido enquanto houver alguém a jogar futebol.